Quando abri o blog vinha cheio de ideias para escrever, além de uma enorme vontade de o fazer, mas assim que me deparei com o assustador espaço em branco para o qual tinha que transcrever tudo o que me passava na cabeça, acobardei-me e estive uns minutos a contemplar esse mesmo espaço vazio.
Queria escrever algo mais "literário", mais na onda de uma pequena história, mas também queria escrever algo que servisse de alegoria para criticar a geração à rasca, além de um texto sério, crítico e objectivo sobre a manifestação de hoje.
Como é óbvio, na altura de escrever caiu tudo por terra. Uma história não se escreve em dez minutos, num post dum blog; uma alegoria é pura e simplesmente pretensiosismo da parte da minha mente; e um texto sério, crítico e objectivo que não fosse um simples papaguear de tudo o que já vi escrito seria algo muito complicado.
Assim sendo, acabei da forma que me estão a ler. A não dizer nada de jeito. Mas vou aproveitar para ainda dizer umas coisinhas.
Toda esta história da geração à rasca, da canção dos Deolinda, da overdose de Homens da Luta e do ressurgimento da cantiga enquanto arma para a revolução, tem-me passado um bocado ao lado. Quer dizer, eu até compreendo alguns dos argumentos do pessoal à rasca, acho que os Deolinda são engraçaditos e que os Homens da Luta são verdadeiramente hilariantes, mas vamos lá ter calma...
Para começar, tendo eu 17 anos e andando na escola, ainda não percebo na totalidade os problemas de que tanta gente se queixa. Não faço a mais pálida ideia do que é estar no mercado trabalho, tentar arranjar emprego, pagar dívidas e afins. Mas sei o que é esforçar-me em vão, fazer sacrifícios e escolhas mais ou menos difíceis. Sei o que é estar a estudar para conseguir atingir algo que não tenho a certeza de ser atingível. Mas acho que não vai ser aos gritos no meio da Avenida da Liberdade que vou conseguir o que quero.
A sério, manifestações são coisas de gente mimada (desculpa Alice! É óbvio que há excepções, mas estou a falar no geral, não me crucifiques já). Gritam que querem isto e gritam que querem aquilo e gritam que querem mais não sei o quê, mas sabem quem é que grita para conseguir o que quer? Bebés.
Pensemos um bocadinho. Porque raio é que tanta gente sente esta necessidade de gritar por aquilo que quer? "Porque o Governo está cheio de bestas e não nos dá o que queremos sem que gritemos!". Sim, talvez, mas porque é que isso acontece? No fundo, e tecnicismos sócio-político-económicos que eu não percebo à parte, é porque não há dinheiro. E não há dinheiro porque se anda a pagar a gente que chega tarde e sai cedo, gente que podia despachar o quádruplo do trabalho, se não ligasse a tantos amigos, não fizesse tantas pausas para cigarrinhos e se se queixasse menos e trabalhasse mais.
Não há dinheiro porque se anda a fomentar uma educação para europeu ver, que obriga os alunos a estarem na escola até ao 9º ano (nada de especial), mas que quer esticar isso para o 12º (HORRÍVEL!), que olha para os números e vê que o número de repetentes duplicou, e lhes arranjam cursos profissionais, onde andam, com 18, 19 e 20 anos a aprenderem coisas que eu aprendi aos 12... Mais uma vez, nem todos são assim, e perdoem-me os que não são, se se sentirem ofendidos. Mas eu olho à minha volta, e é só isto que vejo, praticamente.
(E muito mais, é claro! E sei que o Governo não está isento de culpa, obviamente, também houve ali muita aldrabice... Mas pronto, continuemos...)
Isto faz com que no final se tenha uma geração inteira com o 12º feito, provavelmente até com um canudo nas mãos, mas com um grau de conhecimentos equivalente ao que aqueles que estudaram pelas vias normais tinham antes de saírem do básico.
Se calhar não tenho razão. Não sou economista, a minha especialidade é mais explosões, astronomia e funções. Por isso às tantas o que disse ali em cima não passam de argumentos ocos que precisam de amadurecer e o raio que o parta. Pelo menos não é só "Basta!", gritado a plenos pulmões.
Ainda fica muito por dizer, mas deixem-me acabar a dizer que compreendo quem se diz à rasca. Eu também estaria, se em vez de ter ficado em casa, a estudar, tivesse passado a tarde a passear pela rua, a gritar feito idiota, com uma cartolina nas mãos.