terça-feira, dezembro 1

O Pássaro de Papel

Tudo começou com um simples quadrado de papel e vontade de criar. Com meia dúzia de dobras se fez um pássaro, que foi observado com satisfação, e largado algures passados alguns segundos. Com meia dúzia de estremecimentos, o pássaro levantou voo, desajeitadamente, tornando-se mais seguro e confiante a cada momento.

Durante algum tempo, contentou-se em esvoaçar por aqui e por ali, mas quando o seu criador reapareceu, ele poisou, delicadamente, perto dele. O criador nem reparou que ele não estava onde o tinha deixado e começou, instantaneamente, a dobrar outra folha.

O pássaro percebeu. Era descartável. A facilidade com que o seu criador o tinha feito era aplicável a qualquer altura, deixando o criador com liberdade para fazer quantos pássaros quisesse, tornando assim, cada um deles, insignificante.

Angustiado, o pássaro levantou novamente voo, de forma silenciosa, fugindo do seu criador, por uma janela. O ar frio embateu no pássaro, sem no entanto o afectar muito, ou não fosse ele feito de papel. Deixou-se levar pelas correntes de ar, que o elevaram cada vez mais nos céus, até que a certa altura vislumbrou algo a passar perto dele.

Recompôs-se, ganhou novamente o controlo do seu voo, reparando que não estava sozinho. Os céus estavam repletos de manchas que se moviam rapidamente em todas as direcções. Só quando conseguiu voar ao lado de uma delas, durante algum tempo, é que compreendeu.

Eram pássaros, tal como ele, mas de carne e osso, que ao contrário dele nasceram livres e não foram feitos com meia dúzia de dobras. Deixou de se sentir insignificante, para passar a sentir-se diferente e especial. Percebeu como o seu criador, apesar de toda a facilidade, tinha feito algo realmente extraordinário.

Criara-o. Não, não o tinha feito livre, e sim, podia fazer vários iguais a ele a qualquer momento, mas tinha-o criado. Num acesso de energia, voou rapidamente para a janela de onde tinha saído, mas antes de lá chegar sentiu que algo não estava bem. Os seus movimentos começavam a tornar-se mais rígidos e o seu voo desajeitado.

Era a sua vida, que se esvaía. Bateu as asas, o mais rapidamente possível, e chegou ao parapeito da janela a tempo de ver a cara sorridente do seu criador a contemplar um novo pássaro. Caiu, mais do que poisou, nesse mesmo parapeito, e ficou sem vida. O criador largou o seu novo pássaro, olhou para a janela, e viu o primeiro que tinha criado. Sorriu, aliviado, exclamando:

- Ah! Estás aí! Pensei que te tinha perdido!

7 comentários:

LA disse...

Mais vale um pássaro na escrita, que dois no concurso!
Continua a escrever, o melhor prémio é o prazer que tens em fazê-lo.
Escreve e sê livre como os pássaros. Tudo começa com um teclado e muita imaginação.
Continua a escrever e ganharás asas!

jamaican scary guy disse...

opah...muito profundo mesmo.gostei

Rui Bastos disse...

Obrigado, obrigado =D

M. à conversa disse...

Já te disse o que pensava não já?
Gosto muito =D

Rui Bastos disse...

Já, já disseste. Obrigado^^

Beky disse...

ontem estavam 3 passarinhos desses desenhados numa parede. Lembrei-me de ti! :3

Rui Bastos disse...

Really? Niceeee^^