sábado, março 12

Vá, venham lá bater-me...

Quando abri o blog vinha cheio de ideias para escrever, além de uma enorme vontade de o fazer, mas assim que me deparei com o assustador espaço em branco para o qual tinha que transcrever tudo o que me passava na cabeça, acobardei-me e estive uns minutos a contemplar esse mesmo espaço vazio.

Queria escrever algo mais "literário", mais na onda de uma pequena história, mas também queria escrever algo que servisse de alegoria para criticar a geração à rasca, além de um texto sério, crítico e objectivo sobre a manifestação de hoje.

Como é óbvio, na altura de escrever caiu tudo por terra. Uma história não se escreve em dez minutos, num post dum blog; uma alegoria é pura e simplesmente pretensiosismo da parte da minha mente; e um texto sério, crítico e objectivo que não fosse um simples papaguear de tudo o que já vi escrito seria algo muito complicado.

Assim sendo, acabei da forma que me estão a ler. A não dizer nada de jeito. Mas vou aproveitar para ainda dizer umas coisinhas.

Toda esta história da geração à rasca, da canção dos Deolinda, da overdose de Homens da Luta e do ressurgimento da cantiga enquanto arma para a revolução, tem-me passado um bocado ao lado. Quer dizer, eu até compreendo alguns dos argumentos do pessoal à rasca, acho que os Deolinda são engraçaditos e que os Homens da Luta são verdadeiramente hilariantes, mas vamos lá ter calma...

Para começar, tendo eu 17 anos e andando na escola, ainda não percebo na totalidade os problemas de que tanta gente se queixa. Não faço a mais pálida ideia do que é estar no mercado trabalho, tentar arranjar emprego, pagar dívidas e afins. Mas sei o que é esforçar-me em vão, fazer sacrifícios e escolhas mais ou menos difíceis. Sei o que é estar a estudar para conseguir atingir algo que não tenho a certeza de ser atingível. Mas acho que não vai ser aos gritos no meio da Avenida da Liberdade que vou conseguir o que quero.

A sério, manifestações são coisas de gente mimada (desculpa Alice! É óbvio que há excepções, mas estou a falar no geral, não me crucifiques já). Gritam que querem isto e gritam que querem aquilo e gritam que querem mais não sei o quê, mas sabem quem é que grita para conseguir o que quer? Bebés.

Pensemos um bocadinho. Porque raio é que tanta gente sente esta necessidade de gritar por aquilo que quer? "Porque o Governo está cheio de bestas e não nos dá o que queremos sem que gritemos!". Sim, talvez, mas porque é que isso acontece? No fundo, e tecnicismos sócio-político-económicos que eu não percebo à parte, é porque não há dinheiro. E não há dinheiro porque se anda a pagar a gente que chega tarde e sai cedo, gente que podia despachar o quádruplo do trabalho, se não ligasse a tantos amigos, não fizesse tantas pausas para cigarrinhos e se se queixasse menos e trabalhasse mais.

Não há dinheiro porque se anda a fomentar uma educação para europeu ver, que obriga os alunos a estarem na escola até ao 9º ano (nada de especial), mas que quer esticar isso para o 12º (HORRÍVEL!), que olha para os números e vê que o número de repetentes duplicou, e lhes arranjam cursos profissionais, onde andam, com 18, 19 e 20 anos a aprenderem coisas que eu aprendi aos 12... Mais uma vez, nem todos são assim, e perdoem-me os que não são, se se sentirem ofendidos. Mas eu olho à minha volta, e é só isto que vejo, praticamente.


(E muito mais, é claro! E sei que o Governo não está isento de culpa, obviamente, também houve ali muita aldrabice... Mas pronto, continuemos...)

Isto faz com que no final se tenha uma geração inteira com o 12º feito, provavelmente até com um canudo nas mãos, mas com um grau de conhecimentos equivalente ao que aqueles que estudaram pelas vias normais tinham antes de saírem do básico.

Se calhar não tenho razão. Não sou economista, a minha especialidade é mais explosões, astronomia e funções. Por isso às tantas o que disse ali em cima não passam de argumentos ocos que precisam de amadurecer e o raio que o parta. Pelo menos não é só "Basta!", gritado a plenos pulmões.

Ainda fica muito por dizer, mas deixem-me acabar a dizer que compreendo quem se diz à rasca. Eu também estaria, se em vez de ter ficado em casa, a estudar, tivesse passado a tarde a passear pela rua, a gritar feito idiota, com uma cartolina nas mãos.

13 comentários:

Alice Matou-se disse...

1. Sou contra a manifestação da geração à rasca (da qual me abstive de participar) porque:
a. Trata-se de uma manifestação não apartidária mas desprovida de sentido ético-político.
b. A sua organização é financiada pelo PNR e outros partidos de direita menos ou mais liberal, e tenho provas disso mesmo.
c. Li o manifesto e eles estão contra os funcionários públicos (chamando-nos inclusivamente de ladrões) não lutando contra a percariedade do povo mas sim dos novos-pobres-que-perderam-as-regalias.

2. Discordo contigo relativamente à situação de "dizer basta não vale a pena". Isso demonstra apenas mais uma prova do teu conformismo e comodismo pessoal, meu caro amigo. Só gritando é que sim, nos ouvirão, mas gritando porém por aquilo que realmente se deve.

3. Quanto à dificuldade na entrada para o mercado de trabalho, e às condições percárias nas escolas/universidades e respectivas faltas de apoio à educação respectiva "NAO ESTAREM ASSIM TÃO MAL", devo-te a dizer que abras os olhos.
Não, as coisas não estão nada bem para a ciência.

E com um apelo para que a juventude e cidadãos em geral não vão atrás de cagadices só porque são convocadas pelo facebook mas aprendam realmente a separar as águas (anónimos fascistas de sindicatos) aqui me despeço.

Rui Bastos disse...

É claro que dizer que basta não vale a pena! E eu luto por aquilo que acho que devo mudar, apenas não luto por lutar. Só luto se fizer sentido, não me vou pôr onde quer que seja, a gritar para que me oiçam, sem ter um motivo razoável para o fazer...

Eu cá acredito muito mais que nos vão ouvir se os 60% que não tiraram o cu do sofá para irem votar tivessem ido em votar. É ver quantos daqueles que andaram hoje a passear é que não foram votar nas últimas eleições, até me sentia capaz de apostar...

As condições nas escolas/universidades não são propriamente precárias. Os grandes problemas que eu vejo são causados pelos alunos que deviam estar a trabalhar nas obras e o excesso de apoios que têm, em detrimento de alunos que verdadeiramente se esforçam e querem fazer alguma coisa da vida.

E as coisas até nem estão muito mal para a ciência, digo-te já.

Quanto ao que dizes no final, também acho, o pessoal tem que deixar a mentalidade de ovelhas, de rebanho.

Alice Matou-se disse...

O meu primo tirou um mestrado e pós graduação em biologia genética, foi fazer um estágio pago pelo estado a espanha e está a trabalhar neste momento como empregado no D. Maria II.
De qualquer forma, estás a ser egoísta. Mesmo que nao esteja mal para as ciências (que está!) está muitissimo mal para a arte e para a cultura bem como para as ciencias humanas.
Quanto às eleiçoes, votar em lixo nao obrigado, eu voto Bart Simpson, ainda que nulo.
Quanto aos tótós que deviam estar nas obras e que têm direito à igualdade de oportunidades mesmo que nao as aproveitem só porque te consideras intelectualmente superior... nhe. Não me parece que tenhas muito haver com isso.
E por fim expõe-me como deve ser feita a luta laboral se não na rua? Marcando uma entrevistazinha com o primeiro ministro? "Olhe Sr. Dr. Caralhinho Sócrates, eu ganho 400 euros por mes, tenho tres filhos na escola e a minha mãe de 70 anos doente, importa-se de aguentar aí a economia e emprestar-me uns 500 euritos só para me arranjar este mês?"

Sejamos razoáveis meu caro.

Rui Bastos disse...

As coisas estão mal, concordo, não disse o contrário. Apenas disse que se calhar não se está a ver bem bem as coisas...

Das eleições, dizes que votas nulo, força! Ao menos votas. A maior parte da população portuguesa NÃO vota, e depois essa mesma maioria refila e revolta-se contra tudo e todos. Estão no seu direito, mas se acham que estes estão lá mal, porque é que não foram votar noutros, e deixaram que estes ganhassem? Se fores bem a ver, se aqueles que se abstiveram de votar tivessem praí virados, era só escolherem um partido, votavam todos nele, e esse partido ganhava, sem muita dificuldade...

Quando digo que há alunos que deviam andar nas obras, refiro-me à maior parte dos alunos que anda nesses cursos profissionais, que anda lá a passear, pouco se importando com o que quer seja. Sou a favor da igualdade de oportunidades, mas esses alunos têm muito mais oportunidades que eu, e a única coisa que sabem fazer é, pura e simplesmente, desperdiçá-las. Quando se oferece ajuda, e quem precisa dela, não a quer, parece-me que se deve deixar de oferecer.

E não, também não acho que deva ser assim, com uma entrevista. Sinceramente, não sei bem como deve ser, mas sei como acho que não deve ser, e acho que não é com manifestação atrás de manifestação, a ajudar a criar instabilidade, que a coisa vai lá. Até porque o problema não são exemplos desses, são quando alguém se queixa que não tem dinheiro para pagar as dívidas, mas tem os filhos num colégio, os putos andam com telemóveis topo de gama, compram ténis de 100 euros e andam a ver se compram um carro novo, porque o que têm está velho.

É óbvio que há quem tenha realmente problemas, mas também há quem viva e tenha sempre vivido acima das suas possibilidades, agora tem a situação difícil e aproveita-se do facto do resto do país estar assim para tirar as culpas de cima e as pôr exclusivamente em cima de quem governa.

Não estou com isto a tentar defender o Governo, não sou propriamente um fã, mas estou a tentar ver as coisas de um modo razoável, como queres que eu seja. Provavelmente o Governo até é um grande vilão e isso tudo, mas não está sozinho.

jamaican scary guy disse...

Eu não percebo nada disto e estou contigo naquela parte do estudar. Mas gostei da quantidade de pessoas que se juntaram, mm que muitos tenham ido só para passear, como acontece nas greves da Braamcamp ("Entao e esta greve é para quê? Não sei, mas não temos aulas..."). Mas eu tive a ver e a ideia desta manifestação até era engraçada. Era levarem folhas A4 com problemas e soluções para os mesmos. E assim sim...!

Rui Bastos disse...

Pois é o costume, "então tás a lutar pelo quê?", "sei lá, é pelo que tiverem a gritar ali à frente..." -.-

Si si, acredito mesmo que isso da folha A4 tenha servido de alguma coisa xD

Ah, e btw, ainda bem que estás comigo pah, é uma realidade que tu também vês, todos os dias!

Alice Matou-se disse...

Concordo em parte. De facto, e como já disse, a maioria dos manifestantes nada mais eram que os novos ricos que perderam as regalias (e bem feita!).
A ideia das folhas A4 é a coisa mais rídicula de sempre.

Alice Matou-se disse...

Ah, e se não tens alternativas à luta popular na rua, faz o obséquio de não criticares. Dizer mal só por dizer está ligeiramente próximo daquilo que estás a condenar.

Rui Bastos disse...

Lice lice, eu posso não ter alternativa para um jogador que esteja a jogar mal, mas sei ver que está a jogar mal :p

Beky disse...

A questão aqui é simples: meter uma quantidade grande de pessoas na rua durante uma tarde não faz nada. Querem que as coisas mudem? proponham soluções, alternativas, e depois lutem por elas, na rua sim, mas não uma tarde. Uma semana, um mês, o tempo que for preciso. Parem o transito, parem o trabalho, parem a televisão. Parem as coisas grandes e façam uma revolução como deve ser. Obriguem o governo a ouvir o que tem a dizer, a aceitar as vossas soluções e alternativas.

M. à conversa disse...

Uma maneira de propor soluções é manifestarem os problemas. Na minha opinião foi das poucas vezes que vi realmente uma manifestação com cabeça, tronco e membros! Tinha objectivos bem definidos, e a união presente foi bonita de se ver. Lutaram pelas condições de trabalho e pelo aquilo com que a politica deveria ter como principal interesse solucionar as dificuldades para não comprometer as gerações futuras, e parece que a politica nem sempre segue este lema.É importante lutar por isso, e foi o que fizeram a geração à rasca.

M. à conversa disse...

*fez

Beky disse...

o problema é que lutar só um dia não funciona... nem aqui nem em lado nenhum... é como estudares para um teste e só estudares um dia... tem que haver mais protesto, e tem de se ir mais fundo... snao, achas que as coisas mudaram depois do que eles fizeram?