domingo, maio 23

Ah fadista! SAI DAQUI!

Antes que me venham criticar, gostava de esclarecer aqui uma coisa. Aquela máxima, "gostos não se discutem", é treta. Gostos discutem-se. Como tal, vamos lá incendiar isto.

Fado. Ai, o fado, uma das grandes glórias nacionais, com o seu espírito melancólico, tipicamente português, e toda a saudade nele expressa, sentimento ainda mais tipicamente português, tão típico que "saudade" é uma palavra exclusiva, sem tradução literal em nenhuma língua. Tão bonito! Tão patriótico! Tão... secante.

Eu sei que os portugueses, desde que se lembram, que ouvem fado, e que toda a gente conhece a Amália (e não, não estou a falar da lontra do Oceanário, que ficou recentemente viúva), mas sejamos honestos: o fado não é nada por aí além. Vejamos, instrumental = cordas, cordas e mais cordas. E eu não suporto tanta corda junta; vocal = ou se canta MUITO BEM, e se tem um sucesso do camandro, ou mais vale estar calado.

Mas os velhotes gostam disto. Eu tive ontem direito a uma noite de fado (a noite mais longa de toda a minha vida), e reparei que aquele pessoal gosta mais de ir para lá ser ouvido, do que nós de os ouvir. Dou a mão à palmatória, na parte das guitarras, tocavam bem que se fartavam. Guitarras de 12 cordas não é para toda a gente, e a média de idades devia ser à volta dos 150 anos, por isso, pelo menos nessa parte, estiveram bem, embora eu não goste. Agora quando era para cantar. Que o Preguiçoso Supremo que me ajude!

Desafinanços, incapacidade de distinguir "projectar a voz" e "gritar", entre outras coisas. E já nem falo nas letras, cuja qualidade gramatical variava entre zero e ainda mais zero.

Ah, e uma coisa engraçada. Havia uma parte que tinha uma rima do género "deus/jesus/cruz", mas que o fadista (?) insistia em cantar "deu/jesu/cru". E havia uma letra que falava, pelo que percebi, de uma saloia única no mundo, com uma capacidade inigualável de carregar coisas à cabeça.

Claro que agora vai tudo dizer "ah e tal, isso não foi uma noite de fados a sério, e não sei quê", mas eu estou-me nas tintas. Aquilo foi exemplo suficiente de uma noite de fados, e eu só tinha vontade de rir e de fugir. Até concordei com um deles que cantava "ouve o meu lamento/e livra-me deste tormento"!

Mas houve, claro, uma parte interessantíssima, ontem, naquela noite de fados. De primeiro nome "porta", último nome "saída", e uma particulazinha lá pelo meio, "da", "do", "de"... algo desse género.

2 comentários:

Alice Matou-se disse...

LMFAO! Fado = Tradição = Concervatorismo = Salazar

PS: Já ouvi a gravação aí umas 20 vezes, gostei mesmo daquilo.

Rui Bastos disse...

Mai nada xD

P.S.: Que nice :p