domingo, setembro 19

Isto dos 17...


É uma idade bastante aborrecida. Sério. Esta coisa das idades tem muito que se lhe diga.

Começando pelo princípio, até se fazer um ano, somos fofinhos, característica acentuada pela forma de se dizer a nossa idade nessa altura: "ainda não tem um ano" ou "tem x meses". A reacção imediata, ainda antes de se ver a fronha da cria em questão, é "que fofinho!". E até há quem estenda isto até aos 2, ou mesmo 3 anos, mas dizer que um bebé tem 24 meses é simplesmente parvo. Imaginem combinar alguma coisa para daqui a 900 segundos. Ninguém faz isso. Dizem "para daqui a 15 minutos". Com 24 meses é a mesma coisa, diz-se 2 anos, custa muito?

Mas bem, finalmente faz-se 1 ano, e até se fazer os 2, é como um cargo. Os pais dizem que a criança "tem 1 ano", como os velhotes dizem que o seu filho "acabou de chegar a chefe da empresa". Parece que a criança andou 12 meses (perdão, 1 ano) a lutar e a trabalhar arduamente para fazer 1 ano. E isso dura um ano, pois quando se faz 2 anos perde-se essa magia. Ou não. A verdade é que até aos 6 anos, cada ano é como se a criança se tornasse um chefe cada vez mais chefe. Cresce o orgulho, cresce o puto, cresce a parvoíce.

E fazem-se os 6. A partir daqui, raramente se fala da idade. Especialmente nos 6 anos claro... A pergunta "Que idade tem?" é quase sempre respondida por um "Já vai para o primeiro ano!", como se isso fosse indicativo de que a criança tem 6 anos. Pode ter 5, como eu tinha. Sim, fiz 6 no dia a seguir a começarem as aulas, mas não interessa. Há quem entre com 5, há até quem entre com 7. É que isto depois perpetua-se até pelo menos ao quarto ano, que é quando começa a ser complicado contar. "Está no quarto ano!", e fica-se a pensar, "Ora, entra na escola com 6, tá no quarto... 10? Não, primeiro = 6, segundo = 7, terceiro = 8, quarto = 9, sim, é isso, 9 anos!".

A seguir a isto, vem a idade em que ninguém quer saber a nossa idade. A terrível e horrorosa idade do armário, que não é 1 ano, mas 6! Durante este longo interregno, antes que se pergunte a idade, já se ouviu dizer 3 ou 4 vezes que está na idade do armário. Aos 10 começam a aparecer os primeiros sinais, aos 15 já estão a desaparecer.

E aos 16, idade especial de corrida. Já se pode, oficialmente, trabalhar. Passamos a fazer parte da população que podia estar a fazer alguma coisa, mas está a perder tempo, seja em casa, a beber cerveja e a ver gravações de jogos antigos do Benfica vs Porto, seja na escola, a tentar ensinar ao colega do lado, repetente pela terceira vez, que "cota" é uma coordenada espacial, e não o nome dos pais dele.

Depois disto, os 17, em que... nada. Os 17 não passam da transição dos 16 para os 18. É aquela idade em que nos habituamos ao facto de que já podemos trabalhar, e nos preparamos para o facto que de vamos ter que trabalhar.

Uma pessoa normal acabaria este texto a dizer que está com medo, mas eu pergunto "com medo de quê?". A trabalhar já eu ando, há 12 anos, incansavelmente. A minha principal preocupação com a idade, é que já ultrapassei a idade em que o meu pai começou a ter cabelos brancos, e ainda só apanhei 1 ou 2 na minha cabeça. Se bem que tenho um na sobrancelha, e um no pulso. Isso sim, é assustador!

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